Fazem poucos minutos que abri meu armário e tirei a caixa com os enfeites de Natal. São tão poucos, uma caixa pequena, onde estão todos acomodados desde o começo deste ano. Antes eu tinha mais, a caixa era grande, algumas sacolas de papel ajudavam com as coisas mais leves. Fui perdendo pelo caminho, pelos anos afora.
Quando meus filhos eram pequenos a árvore era grande, com muitas bolas e festões, lâmpadas coloridas piscando, estrelas, laços, anjos.
Fazem uns anos que deixei de montar a árvore, montei o presépio na capela do bairro onde morava e deixei por lá. Guardei apenas o papai-noel lindo e vermelho e alguns enfeites de parede.
Fazem poucos minutos também que ao abrir o armário e pegar a caixa de enfeites, abri a porta das lembranças e me vi menina pedindo um boneco grande para minha mãe.
Naquele mês de dezembro eu a observava fazendo um vestido vermelho para mim, de salpicos brancos, com um laço grande para amarrar na cintura e babados na barra. Com o pedaço de tecido que sobrou minha mãe costurou uma roupinha bem menor, parecia um macacão de bebê. Quando eu perguntei para quem era aquilo ela respondeu rindo - é para seu irmãozinho que vai nascer! - o que me deixava muito confusa porque os gêmeos eram tão pequenos - será que mamãe teria mais um bebê? Ela estava brincando, claro, mas eu não entendia, acreditava. Quando ela começou a fazer sapatinhos em crochê, combinando com uma touca de pom pom, em lã vermelha, eu achei mesmo que era um enxoval de criança. Mas na inocência dos meus sete anos nem me preocupava.
Na noite de Natal, estávamos na cozinha vendo mamãe e minha avó preparando os temperos para as carnes que seriam assadas no dia seguinte, porque naquela época a familia se reunia em nossa casa para um grande almôço. Em uma certa hora minha mãe disse para mim - vá até o quarto pegar um lenço para seu pai - e lá fui eu correndo, acendi a luz e dei de cara com meu boneco sentado em cima do criado mudo, vestido de macacão de salpico, touca de pom-pom e sapatinhos de crochê.
Aquela sensação de surpresa misturada com alegria me fez pegar o boneco e sair correndo como louca, orgulhosa de meu presente e de ter um bebê com a roupa de tecido igual ao meu vestido que eu só vestiria no dia seguinte para ir à missa.
Era um boneco de papelão, muito comum naquela época, uma solução para pais que não podiam comprar bonecas caras, importadas. Eles eram enormes, com pernas grossas, cabeção com pintura imitando cabelos marrons, olhos azuis - também pintados - e rosto corado, bem cor-de-rosa.
Hoje quando me lembro dele sei que era feio, um tanto grosseiro, brilhante demais. Mas como era bonito para mim naquele dia! Nunca houve um boneco tão lindo em toda a face da terra. Foi um Natal feliz, não me lembro de mais nada daquele dia, nem do outro quando vesti meu vestidinho novo e provavelmente fui à missa, como era hábito. Só me lembro dele com seus imensos olhos azuis que nunca piscavam nem dormiam mas que eram maravilhosos.
É tão fácil agradar uma criança, mesmo as de hoje - basta faze-las esperar pelo presente, sonhar com ele.
E que o momento da entrega seja mágico, único, para que fique gravado na memória como tatuagem, inesquecível.
Aquele boneco ficou no quintal numa noite que eu não me lembro se estava cansada de brincar, se precisei entrar correndo para atender minha mãe ou se foi uma grande falta de cuidado de minha parte.
E naquela noite choveu muito, uma chuva capaz de derreter o papelão e estragar irremediavelmente meu bebê. Nem preciso contar aqui as lágrimas que chorei e a bronca que levei de minha mãe.
Tive outras bonecas, duas ou três, mas nenhuma delas tinha o encantamento do meu bonecão desengonçado e feioso. Quando fecho os olhos e puxo pela memoria consigo ve-lo olhando para mim com seus grandes olhos azuis e o cabelo esquisito pintado na cabeça enorme.
Tenho várias lembranças de Natal da minha infância e da infância de meus filhos Vou aproveitar a época do ano para contá-las, revivê-las. Vai ser muito bom, abrir o armário, revirar as sacolas e caixas, arejar as recordações e saudades, para quando as festas acabarem tornar a guardá-las com carinho, envoltas em papel de seda, bem no fundinho do coração.
Faz parte da vida lembrar do passado. Alguns gostam de contar, outros apenas lembram e se calam.
Qualquer que seja a opção o importante é ter do que sentir saudade, sempre...
Um lindo conto de natal, Ivani querida!! Fico envolvida nas suas histórias e demoro a me desvencilhar delas!!!rsrsr
ResponderExcluirMinhas lembranças de natal não são as melhores. Acho que nào gosto muito de lembrar delas!! Um dia ainda conto, assim como vc!
Aqui chove chuva, chove sem parar!!!rsrsrs...parece que São Pedro quer que todos aqui virem sapos!!! rsrsrs...
Beijos, amiga!! Bela.
Que coisa linda, lembro vagamente dos dias de natal quando ainda a mamães era viva. Das festas lembro do batizado dos gêmeos, lembro também das festas da COBRASMA e dos nossos presentes.Fui sempre comportado e nunca quiz o presente dos meus irmãos, adorava ficar olhando os olhos das bonecas....lembra?
ResponderExcluirBeijos
Ai Ivani, que triste esse dia chuvoso pra você... Mais acredito, que esse acontecimento, fez de você uma mãe e principalmente avó muito mais cautelosa. Se te marcou, foi porque aprendeu algo...Lindo, eu já tinha ouvido sobre o boneco...Mas quando lemos, tudo se torna uma grande fantasia na cabeça.
ResponderExcluirAmei.
Sopre a poeira e abra as caixas, afinal esta chegando o Natal!
Beijos
Edison, eu me lembro sim! aliás, tenho historias sobre presentes que preciso contar...me aguarde!
ResponderExcluirBela, conte pra gente sobre suas lembranças, vai fazer bem abrir a caixinha de Natal.
E Paula, eu aprendi que não se deve ir dormir sem dar uma olhadinha no quintal kkkkkkkkk!
beijos para todos, amo vocês.
Que linda história! Vou adorar conhecer todas as que você tem pra contar!
ResponderExcluirBeijos,
eneida
Ah...não me canso de ouvir essa história!
ResponderExcluirÉ tão cheia de magia!
Eu chego a sentir a sua euforia quando ganhou sua boneca...é um sentimento tão puro!
E quanto aos enfeites de natal...sua magia...pode escrever mais! Adoramos isso!
Um beijo
prometo, prometo que assim que abrir minha caixinha vc vai ser a primeira a ser chamada para estar ao meu lado:o)
ResponderExcluirLhe desejo um final de semana lindo e cheio cheio cheio de alegrias!!! Adoro vc!! Bela.
Lendo suas palavras me lembrou quando minha vó - a querida "Baba" fazia o pão doce, as rosquinhas e a rabanada.
ResponderExcluirAh o Natal...sempre nos remete a boas recordações....
ResponderExcluirAs minhas são as melhores possíveis!
Sempre cheio de magia, de significados...até hoje!
Bela, vou cobrar essa promessa em? não vou esquecer.
ResponderExcluirFernando, sempre vou me lembrar do pão-doce de sua vó, nossa querida Dona Bárbara. Ocheiro da cozinha dela dava pra sentir do outro lado da rua. Que saudade!
Juliana, que bom saber que suas lembranças são boas, afinal faço parte delas.
beijos para todos e obrigada.