quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Continuando...



Vou continuar revirando minha caixa de Natal. Hoje li uma mensagem muito bonita, feita pelo marido de uma comissária da Gol, que estava naquele vôo fatídico de alguns anos atrás. Ele fala sobre como teria se comportado se soubesse que aquele seria o último dia que a teria junto. É um relato emocionante, dramático mesmo, feito por um homem destruido, um dia após a queda do avião.
Não é fácil você perder uma pessoa querida de maneira tão rápida e brutal. A sensação de abandono de quem fica é devastadora,  a dor é física, na carne. Após ler a mensagem fiquei meditando sobre a possibilidade de alguém saber ou não se vai perder alguém querido, e quando.
Então lembrei-me do último Natal com minha mãe. Era fim de ano e eu ia fazer dez anos em março. Ela já estava muito doente. Sei que ela pediu ao meu pai que comprasse roupinhas novas para nós quatro, eu e meus três irmãos menores, porque tínhamos que ir à missa de Natal de roupa nova. Isso era tradição lá em casa, e ela estando tão mal, e sabendo das dificuldades financeiras de meu pai, mesmo assim insistiu naquilo.
Nos anos anteriores era ela que sentava-se à máquina de costura e preparava roupinhas para todos - inclusive para o bonecão - mas aquele ano não seria possivel.
E lá fomos nós, papai eu e meus irmãos, de ônibus, com uma recomendação de mamãe para que meu vestido fosse modelo "charleston". Nem sei explicar aqui o que significa essa moda. Quem é daquele tempo vai se lembrar. Era uma febre esse tal modelo e ela tinha visto na televisão, provavelmente.
Enquanto escolhíamos as roupinhas, a gerente da loja perguntou ao meu pai onde estava a mãe das crianças, e eu o ouvi  respondendo que ela estava muito doente. Meu pai estava atrás de umas araras de roupa e não percebeu que eu ouvia quando disse: - ela talvez não tenha mais um mês de vida.
Lembro-me perfeitamente de minha reação de espanto, acho que de susto. Minha mãe? então ela não vai sarar? ela vive dizendo que vai ficar boa para cuidar de nós, e ela não sabe de nada?
Mamãe faleceu no primeiro dia de fevereiro.  A previsão de meu pai foi mesmo certa, ela descansou de uma longa  doença.
Então hoje me pergunto: poderia ter feito alguma coisa diferente para minha mãe, sendo que sabia que ia perde-la?
Confesso que fiquei muda, ela nunca percebeu, nem meu pai, nem meus irmãos, que meu coração de criança estava tentanto assimilar aquilo tudo.
Não fiz drama,  era muito menina, não tinha noção do que iria sofrer com a falta dela. Tentava apenas entender porque nossa vida era assim.
Mas voltemos ao Natal, o vestido ficou lindo! Fundo branco e listinhas vermelhas, cintura baixa, pregas na saia, laço vermelho marcando a costura do quadril. Meus irmãos com suas calças e camisas novas,  fomos à missa como ela gostava, nem me lembro muito bem desse detalhe, mas lembro-me de todos enfileirados ao lado de sua cama para que ela nos visse tão bonitos!
E ela sorria e dizia - se comportem na igreja, senão eu fico sabendo em? ...
Não escreverei mais sobre Natal triste, prometo. As próximas postagens serão alegres e divertidas.
Confesso que chorei ao escrever hoje, porque há tempos não tinha imagens tão fortes daquela época.
Aquelas quatro crianças arrumadinhas com suas roupas novas fazem parte de minhas recordações mais dolorosas.
Continuaremos revirando a caixinha de Natal, mas chega de tristeza. Agora é só saudade, mas saudade da boa, daquela que faz florescer um sorriso nos lábios enquanto escrevo. Aquela saudade que transporta no tempo, aquece a alma, tranquiliza o coração. É dessa que eu gosto...até lá.


7 comentários:

  1. Como um ser humano consegue suportar tantas dores?
    É inexplicável...
    Eu não gostaria de saber nem a hora e muito menos dia ou mês, que teremos que nos despedir de algum querido, ou fazer a nossa própria despedida...
    Só temos uma certeza...é a da nossa viagem !!!
    Mas como é difícil e dolorido aceitar...E no Natal tudo fica tão nítido. Por isso adoro aproveitar o máximo o Junior e as crianças, e curti-los a cada instante do Natal, pois sei que essas são as imagem que eles levarão na lembrança, e nós também!!!

    Um beijo!

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  2. Um dia você "descobre que as pessoas com quem você mais se importa na vida são tomadas de você muito depressa,
    por isso sempre devemos deixar as pessoas que amamos com palavras amorosas, pode ser a última vez que as vejamos"
    Essas são palavras que emprestei de William Shakespeare, porque neste momento, diante de tão emocionante texto, fique sem palavras...
    Beijos

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  3. Muito bonita essa postagem ,mas muito triste também.....agora tem que escrever alguma coisa bem alegre ok?
    beijocas

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  4. "É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã, porque se voce parar pra pensar na verdade não ha...

    E isso voce faz muito bem!!!!

    Beijos

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  5. "Sou uma gota d´água, sou um grão de areia"....
    Não resisti...também adoro essa música que a tia Eliana colocou...
    beijos

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  6. Ivani, querida, como pode ser tão doce, querida amiga?? O que posso dizer...que lhe desejo o mais feliz natal de sua vida! Rodeada de amigos, filhos, irmãos, netos. Adoro vc!!

    Beijos mil!!!! Bela

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