quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Valores



Frequentemente ouço ou leio uma frase que me faz pensar. Um dia li: "o homem já chegou à lua mas tem dificuldades para atravessar a rua e conhecer seu vizinho.".
é verdade mesmo, não é? esse assunto já está mais do que comentado entre pessoas que gostam de discutir relacionamentos. Não quero me deixar levar pelo tema, apenas permito que meu pensamento voe bem longe, e me leve aos vizinhos de minha infância.
todos se conheciam pelo nome, e sobrenome (era muito importante saber sobrenome). Ninguém visitava o vizinho, a não ser em casos de doença, para oferecer ajuda, para prestar solidariedade.
poderia ficar aqui descrevendo vários casos de amizade e também de fofoca de criança (também tinha!). Mas acredito que vou ter bastante tempo para ir contando esses "causos" nesse meu blog querido. Vou contar apenas um, que acho exemplar.
minha mãe não conseguia amamentar os filhos, talvez por alguma deficiência decorrente da doença que a levaria tão cedo. Fui sua primeira filha e tive o privilégio de ter uma tia amamentando sua filhinha. Essa tia querida me deu seus seios, fartos, durante meses. A mim e à minha prima, até que eu pude tomar de outros leites. Qualquer dia desses volto a esse assunto. Estávamos falando de vizinhos. Quando nasceu meu irmão, o mesmo problema se repetiu, mas morávamos em outra cidade, e não havia tias amamentando.
e é nesse ponto que queria chegar, uma vizinha! Essa mulher linda, tinha um bebê de poucos meses e muito amor no coração para dividir, não só os seios negros, mas também todo o carinho que brotava dela. Tinha um sorriso bom, voz grave, braços redondos. Lembro-me dela sorrindo com meu irmão no colo, feliz por estar ajudando mamãe a superar aquela fase dificil. Naquela rua todos davam-se muito bem, mas a amizade dessa mulher com minha mãe era de irmãs, mais ainda, de comadres.
Foi ela quem batizou meu irmão, ela quem escolheu o nome, a igreja, roupas brancas. Dona Aurora, que foi amiga durante o resto da curta vida de mamãe, mas que nunca esquecemos por ter alimentado meu irmão que hoje é forte, saudável, e tem uma voz grave, braços redondos, sorriso fácil.
coincidência?
a vida vai nos levando pra longe das pessoas, mas algumas são inesquecíveis.
Dona Aurora é uma delas. Beijo.

Imagem: Google

5 comentários:

  1. Eu lembro dessa história que vc contou.Bonita né?
    bjs

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  2. Mais uma linda história de Ivani!!! Muita emoção nestas entrelinhas, querida amiga virtual!!! Enquanto lia um filme foi rodando aqui na minha cachola...onde quer que esteja Dona Aurora está feliz por essa homenagem!!!
    Beijocas!!! Bela.

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  3. Ah...essa história é linda mesmo...
    Acredito que ainda existam algumas Auroras por aí...e é um privilégio ter uma como vizinha, não é? Gostei muito deste post!Beijo-Beijo!

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  4. Linda a mensagem...Linda dona Aurora...Essas são as lembranças que ficam!

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