terça-feira, 14 de setembro de 2010

minha saudade



Muitas e muitas vezes ouvi pessoas, até mesmo eu, parodiando Ataulfo Alves com a frase "eu era feliz e não sabia". Existem períodos na vida os quais sabemos que são felizes,  adoramos estar vivendo esses acontecimentos, ficamos alegres de estar vivenciando essa fase. É o que acontecia comigo, há muitos anos, quando adquirimos, meu marido e eu, um sitio nas proximidades de Ibiuna. As crianças eram pequenas, tinham entre um e seis anos, morávamos em uma cidade que não oferecia lazer algum, clima poluido, e uma violência que existe em cidades muito grandes.
Resolvemos então investir em um pedaço de terra, nosso, onde pudéssemos criar nossos filhos ao ar livre, com os pézinhos no chão, sol na cara, vento nos cabelos.
Não vou entrar em detalhes sobre a casa, topografia, plantações e outras coisas que tomam tempo e espaço.  Vou falar da alegria nos finais de semana, já na sexta-feira à noite, ao colocarmos tudo no carro, até cachorro e passarinho,  e nos debandarmos por aquela estrada tão conhecída a cada curva, cada buraco, loucos por chegar em nosso sitio e nos jogarmos de braços abertos, cada um com sua paixão.
As crianças apaixonadas pelo terreiro, pelas brincadeiras na terra, pelas balanças nas árvores. Meu marido apaixonado pelo seu pequeno trator, seu lago (que ele mesmo mandou cavar) sua horta. E eu, acreditem, pelo meu fogão a lenha e minha pequena casa, simples demais, mas tão querida que só de lembrar choro de saudade.
Eu era feliz, e SABIA!

É um lugar frio, onde o inverno é bem rigoroso, mas meu pequeno fogão aquecia nossa minuscula  casa, nossa comida gostosa, nosso café que ficava  no bule de ágata sobre a chapa de ferro,  e nossos corações quando nos sentávamos na cozinha para conversar ou jogar dominó.
Falaria sobre aquelas noites pelo resto de minha vida, mas os dias também eram divertidos, cheio de trabalho e brincadeiras, visitas, a familia chegando para um churrasco, os vizinhos tão simples, como nós, que chegavam para um dedo de proza.
Meus filhos corados, com apetite, correndo com o cachorro, levando tombos, rolando no barro, tomando chuva. Num belíssimo dia, tive a belíssima idéia, de comprar algumas cabras. Chegamos a ter vinte e duas.
Tomávamos o leite, fazíamos queijo, e não existe no mundo um animal mais bonito do que um cabritinho recem-nascido. Eu ainda não vi! eles são tranquilos, carinhosos, deixam-se pegar no colo, adoráveis.
As férias eram sempre lá, as festas de fim de ano também, as páscoas e até as festinhas de aniversario, algumas aconteceram por lá. E sempre, na hora de voltar para casa,  arrumava as malas chorando e viajava vários quilometros enxugando as lágriamas, quieta, porque queria ficar.
Foram vários motivos, inclusive a distância depois da transferência de meu marido para a cidade onde moro hoje, que nos levaram a vender nosso tesouro.

Nem vou escrever sobre a despedida, porque, como já disse aqui, não estou preparada para falar de adeus. Coube a mim, justamente a mim, entregar as chaves e retirar alguns pertences. Conto apenas que cheguei antes do novo proprietario, e fui até a paineira que eu plantei pequenina e transformara-se em uma linda árvore, grande e muito forte. A abracei chorando e assim fiquei  por vários minutos, sabendo que ali estava ficando um pedaço de mim, uma historia linda.
Já fazem tantos anos que tudo isso aconteceu, desde a despedida passaram bem mais de vinte. A alguns anos atrás, talvez uns sete, voltando de uma viagem passei por lá. Nunca mais havia ido, só não sabia que o novo dono também não ia com frequência,  e tomei um susto quando cheguei até a  porteira.
Nada tinha mudado, nada mesmo. Apenas as árvores estavam maiores, a casa era a mesma, o portão era o mesmo, até o cadeado com a corrente enferrujada eram os mesmos. Cheguei bem perto, olhei lá para dentro, e por um momento achei que tinha sido a última a fechar o portão.  E tive a impressão de ouvir  alguém dizer:  "estou como você me deixou, só você me amava e cuidava de mim".
Exagero meu? sei lá, só sei que tenho saudade, e essas fotos que postei acima mostram a minha paineira entre outras árvores menores.
não vivo chorando pelos cantos relembrando momentos felizes, mas quero deixar registrados esses momentos, porque afinal, é disso que se vive, de boas lembranças, porque as más não valem a pena de uma lágrima, muito menos de um texto.
beijo

7 comentários:

  1. Ai, ai, ai...você me fez chorar...
    Lembro muito bem desses dias. Acredite, eles foram muito importantes na minha vida...minhas melhores lembranças da infância vêm dali...
    Foram anos mágicos, em que coisas simples traziam uma felicidade sem fim!
    Hoje ainda sou assim, gosto de mato, de cheiro de lenha e de pé no chão...acho que já sei o motivo...
    Amei o post...

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  2. Não vou nem comentar,pq não posso me emocionar!!!!bjsss

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  3. Que lindo!!! estou te esperando para irmos lá...

    Voce vai chorar muito???

    Beijos
    Eliana

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  4. A mágica está além do lugar...Ela se encontra quando junta-se a família naquele momento unico!
    é aquele olhar que está tudo bem...as crianças estão soltas, mas sem medo da loucura da cidade!
    Esses momentos que estamos hoje é uma pitada de tudo o que vc viveu, e me sinto assim como vc, quando vejo os tatuzinhos correndo pra la e pra cá...Eu queria ter ido passar algum fim de semana lá com vcs...A paz seria outra, eu iria falar muuuuuuuuuito...kkkkkkkkkk já pensou? eu pequenininha junto com as crianças...
    Amei o que vc escreveu, me emocionei em pensar na sua paz de espirito!
    Bjs Nora

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  5. Oi, não viajei não, estou é bem atarefada no trabalho. Mas não resisto a um bom saudosismo. Tbm sou assim!Amo viver e reviver momentos que marcaram minha existencia. Sim, concordo plenamento que os felizes devem permanecer vivos asim com as suas árvores do sítio. Bisous... logo estarei de volta!

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  6. Ivani, pensou a Paula pequenininha lá com voces...nossa que tranquilidade....nem os bichinhos iriam aguentar...

    Beijos Paula

    Eliana

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  7. A naturesa é sábia Eliana. Só deixou que a gente encontrasse a Paula muitos anos depois!!!
    Ia ser uma coisa de louco!
    beijo

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