domingo, 26 de setembro de 2010

anos dourados



Toda vez que converso com uma amiga, ou com uma prima, sobre nossa juventude nos anos 60, invariavelmente nosso papo é interrompido por sonoras gargalhadas.
Hoje, lançando um olhar saudoso para aqueles tempos, fica tudo muito engraçado. Como disse em outra postagem, vamos lembrar apenas das coisas boas, porque as más não valem uma lágrima.
A moda daqueles anos merecem atenção especial em nossas prosas. Havia a determinação de que se uma artista de cinema podia usar, nós também podíamos, ou melhor, devíamos. Então veio a moda da saia plissada, em tecido xadrez ou listrado, super colorido senão ficava sem graça. Nem todas ficavam bem com essa saia, mas "todas" tinham uma. Parecia uniforme, saia plissada e "conjuntinho de ban-lon".
Eu explico! o conjuntinho de ban-lon, nada mais é do que o Twin-set que até hoje é muito usado.
Mas naquela época era fabricado em ban-lon, um tecido 100% sintético, sufocante, quentíssimo, que nós usávamos bravamente sob um sol escaldante de verão. Mas, era a moda!
Eu só podia ter um, escolhi lilás nem sei porque, pois é uma cor que não combina com quase todas as outras.
Quem me conhece sabe que eu, hoje, não suporto essa cor, deve ser algum trauma dos anos dourados.
Os twin-sets de hoje são mais largos, mais longos e elegantes, feitos em tecido confortavel tanto para o frio como para calor. Os nossos eram usados rente à pele, colados mesmo, e curtos na altura da cintura, portanto imaginem as gordinhas, de bunda grande, usando saia plissada e "conjuntinho de ban-lon" . Enfim, era moda!
Obviamente haviam roupas mais bonitas e usáveis, mas as meninas insistiam em usar o que aparecia no cinema e nas revistas de fotos de artistas americanos.
As meias de nylon, peça obrigatória no guarda roupas, tinham uma costura que vinha da sola do pé até o arremate nas pernas. Como usávamos "cinta-liga", porque não tinham inventado ainda as meias calças, a costura costumava ficar torta, pois a cinta não era lá muito firme.
Então, cada vez que alguma de nós levantava-se para ir ao banheiro, ou para dançar, não importa o motivo, virava-se para a amiga ao lado e pedia: - dá uma olhada na minha costura, vê se está torta.
Caso um olhar positivo, era uma aflição até consertar a tal linha sinuosa, pois isso era considerado muito deselegante. Pobres rapazes então, com suas calças boca-de-sino, agarradas na cintura e abrindo perna abaixo, até terminar em uma barra enorme que cobria os sapatos, deixando os magrelos bem mais magros e os gordinhos com uma aparência no mínimo estranha.





Não é atoa que rimos muito quando nos lembramos de tudo isso. E os cabelos então?  Escovados à moda "gatinho", ou enrolados em um coque que tinha o simpático nome de "banana".  Lembro-me também deles presos em coques com cachos imitando uma cascata, ou bem curtinhos como de Rita Pavone, nossa musa italiana.
Lembro-me de uma grande amiga, até hoje nos vemos sempre,  que naquela época cuidava dos meus cabelos e eu dos dela. Como boa filha de russa e polonês, tem os cabelos louros e lisos e eu tenho os meus escuros e ondulados. Ela tinha muita vontade de ter os cabelos como os meus, e eu queria ter os dela. É  sempre assim, não?  Eu enrolava "bobies" nos cabelos dela, molhados de fixador, que depois de soltos ficavam com a aparência de uma peruca, pois ela não escovava com medo de perder os rolinhos.
Ela por sua vez, fazia "touca" nos meus cabelos molhados, que quando secavam e eram soltos ficavam lisos, devo reconhecer, mas virados para um lado só, dando uma aparência um tanto esquisita.
Estamos as duas com os cabelos grisalhos, ela curtinho e bem liso, eu curtinho e bem crespo,  e nem pensamos mais em trocar de cabelo, não é mesmo Halina?
Quem lê esse texto pode até pensar que era tudo muito fútil, ou que pensávamos apenas na aparência. Mas não, era tudo muito dificil, os produtos de beleza eram caros e não tínhamos dinheiro para comprar todos,  criando aí um mercado interessante, porque trocávamos entre nós, delineadores, bases, lápis e rímel.
Ninguém saia sem maquiagem, nem com cabelo desarrumado, e muito menos de costura torta.
Quase morríamos de calor em nossas roupas sintéticas e nossos sapatos apertados, andando de ônibus, segurando o cabelo para o vento não desmanchar, mas éramos bem felizes nesses momentos.
Aquela alegria que nos fazia sair de casa com sapatos velhos levando os novos na bolsa para não sujar no barro, acreditando que não podia ser melhor, era uma alegria inocente e deliciosa.
Adoro me lembrar daqueles dias e fico agradecida por te-los vivido em boa companhia, sem medo, sem dúvidas, sem preconceito.
Um brinde aos anos dourados? Vamos lá...tim-tim,  hoje com suco de fruta (não abri mão da cerveja não!)
porque nesses anos não tão dourados que vivemos hoje, sou obrigada a fazer alguns exames para saber o quanto mais posso beber.  Vai dar tudo certo!
beijos


as fotos foram emprestadas do Google.

9 comentários:

  1. Eu curto essa época de vcs até hoje,e acho que em relação às músicas hoje em dia não existe uma que chegue aos pés das que tocavam naquela época.Gostei muito desta postagem.
    beijocas

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  2. Boas lembranças, fico aqui imaginando vcs...Vc e a Halina com os corpinhos impecáveis nas curvas...Se fosse nessa época vcs seriam as Sheilas do Tchan ( loira e Morena ), acredito que paravam quarteirão!!!kkkk...Que ótimo...adorei!!!
    Tudo sempre dá certo...tim tim!
    Bjs Bjs

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  3. Ivani, minha querida escritora, dei ótimas gargalhadas lendo seu EXCELENTE texto de hj!!! Meu marido, aqui ao lado, espantou-se com minhas risadas e fui obrigada a ler seu texto em voz alta para ele. Ele gosta qdo leio para ele! Vc narra muito bem e sua riqueza de detalhes me espanta! ADORO!
    Gostaria de ouví-la contando essa história. Ao vivo, sabe?!
    Beijos mil e boa semana!!! Bela.

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  4. Acho demais estas história dos anos dourados, a mim remete ao romantismo, acho que porque sou romântica...tão bom você compartilhar tuas histórias com a gente...só dá uma palhinha de papos futuros, não é?? Bjo e boa semana!!

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  5. Querida Táta.

    Gostei muito, você lembra que eu tambem usava suas blusas e lenços (amarrado no pescoço) e usava seus perfumes da Avon (flores do campo).
    Quanto ao cabelo eu também queria que os meus fossem ondulados. Aí a Joana enrolava os papeis e passava babosa.....meu Deus..
    Beijos

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  6. Larissa, eu concordo com você, as músicas foram a melhor parte desses anos 60.

    Paula, a gente não parava quarteirão mas paquerava muito!

    Bela...quem sabe um dia eu conto uma historia ao vivo pra você? nunca duvide...

    Cris, você é uma prova de que o romantismo nunca caiu de moda, apenas mudou de década.

    E Edison, eu me lembro muito bem das roupas que você me roubava, na surdina, para sair à noite.
    E me lembro também da sua luta para ter um cabelo mais crespo. Essa historia da babosa foi uma furada, eu acredito até que sua pouca cabeleira hoje seja resultado de tanta massagem.
    Mas valeu...

    beijos e obrigada pelos comentarios gostosos.

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  7. Ai meu Deus...dei muita risada com este post...
    Quanto sacrifício em nome da beleza hein!!! E ainda assim deixa um gosto de saudades...Muito legal! Beijos

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  8. Voltei...
    Ivani adorei o texto, voce não tem uma historia de que sua cinta liga soltou e a meia começou escorregar...acho que foi descendo a João Batista...não foi? e tambem tinha sua meia peruca, ah...era linda(no meu olhar de criança....)as golas olimpicas...lembro de tudo ou quase tudo...lembro ds suas brigas com o Edisom cada vez que ele roubava suas blusas...minha mãe conta até hoje que ela enrolava os cabelos dos meninos e quando o pai chegava e via aquilo quase tinha um ataque...que engraçado... muito bom...

    Beijos

    Eliana

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  9. continuando...

    Tentar enrolar o cabelo da Halina!!!!

    Beijos

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