Um lindo jardim

Naquela manhã de domingo, o homem magro, de estatura média, triste e de poucas palavras, banhou seus três pequenos  meninos, ajudou a filha mais velha a vesti-los e saiu para o ponto do ônibus.
A viagem não era tão longa, uns quarenta minutos, que ele fez olhando pela janela, acompanhando o desenrolar da vida lá fora, naquele dia bonito de sol.
Para as crianças a novidade era bem vinda, os meninos com os olhinhos brilhando, sem entender muito bem aonde estavam indo. A menina já sabia, era um pouco mais velha, talvez uns nove anos, e observava o pai olhando através do vidro a cidade que passava e passava...
O jardim que rodeava o hospital era muito grande, bem cuidado,  tinha árvores velhas e enormes, com bancos espalhados pela grama. O edificio era alto e já havia sido branco, agora meio amarelado, e tinha um aspecto de limpeza sob o sol daquele domingo tão distante.
A mãe apareceu na varanda, acenou, e o pai mostrou para as crianças : - olha a mamãe, façam um sinal para ela!.
As crianças vibraram ao ver a mãe, acenavam e sorriam. Num piscar de olhos ela não estava mais lá, e o pai até pensou que alguém a tivesse chamado, quem sabe alguma enfermeira?
Mas não, em poucos minutos ela está ali, no jardim, abraçando os filhos e sorrindo, com seu roupão de flanela, estampado de flores vermelhas.
A menina não controlou as lágrimas, correu, sentou-se longe, não sabia como se comportar diante da mãe, tão magra, e ao mesmo tempo tão alegre.  A mulher esperou, depois foi até ela, abraçou e contou coisas sobre o hospital. Prometeu que voltaria logo para casa, levou a filha para junto dos outros, só aconchêgo, familia toda  sentada na grama.
Ela tinha pedido ao marido para levar as crianças, sentia saudade, o tratamento estava se prolongando demais. Estava feliz e acreditava sinceramente que tudo acabaria bem.
O homem sabia que não, mas em seu rosto triste não havia o menor sinal de desespero, apenas de saudade e compaixão.
Hora de ir, despedidas, abraços e beijos demorados nos meninos tão amados, promessas e gracinhas para a filha querida e chorona.

A viagem de volta foi silenciosa, o homem de calça cinza e camisa branca estava mais arqueado, ainda mais pensativo.
Se me perguntam sobre alguém para homenagear no dia das mães, a primeira pessoa que me vem à mente é aquele homem com seus quatro filhos, no jardim do hospital, acenando para o terraço.

Pai...sinto tanta falta de você...