quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

O chorão!

Como "sabiamente" deixei gravado na minha ultima postagem  : - não vou mais falar de Natal triste - pretendo seguir à risca minhas determinações. Lembranças não pedem passagem, não batem à porta e geralmente têm más intenções. Não há o que corrigir porque não posso voltar no tempo, então, meu grande consolo é falar sobre elas.
Tivemos festas lindas no decorrer dessa minha vida louca. Em algum momento do passado devo ter feito um acôrdo comigo mesma:  - vamos lá garota! vamos ser felizes porque tristeza produz rugas no rosto! - não que isso tenha me livrado delas (as rugas). Mas como dizem os poetas "cada ruga tem uma historia", e as minhas são aquelas que marcam ao redor da boca e dos olhos, de tanto rir.
Tenho vocação para a felicidade, já escrevi isso por aqui, portanto as lembranças amargas me fazem chorar, mas não o tempo todo. Sorrir e falar sobre coisas engraçadas é um de meus passatempos favoritos.
E houve um Natal que foi engraçado, para mim nem tanto, e vou explicar porque. A emprêsa onde papai trabalhou por quase uma vida toda, uma grande fundição, tinha um clube com campo de futebol e enormes eucaliptos em sua volta. Era um lugar lindo, e eu digo era porque hoje é um grande pátio de fábrica. Nesse campo com  grama era realizada, ano após ano, a festa de Natal dos funcionários e suas familias.  Ficávamos o domingo todo por lá, comendo pipoca, algodão doce, lanches salgados e ainda ganhávamos uns sacos de papel cheios de doces coloridos, sorvetes, guraná na garrafinha, ufa! uma delicia.
O papai-noel aparecia de charrete, toda enfeitada e com a banda tocando músicas típicas à frente. Era mágico, lindo! A uma certa altura começavam as ditribuições dos brinquedos, e nós, em fila, esperávamos tão impacientes pelos nossos presentes, que parecia um castigo a fila demorar tanto para andar!
Quando finalmente aquele pacote de papel celofane com laço chegava às nossas mãos - por Deus! - o coração explodia de alegria.
Nesse determinado ano, acredito que 1955, meu pacote trazia um palhacinho de pano, com cabeça de borracha e chapéu de cone. O corpo do boneco já era seu macacão, de bolinhas, e o rosto era pintado com a maquiagem pesada dos palhaços de circo. Não media mais do que trinta centímetros, acredito, e era encantador. Mas, minha alegria durou pouco. Meu irmão Edison, então com apenas quatro anos, sismou que queria o meu brinquedo. Sinceramente não me lembro o que ele ganhou, quem sabe poderá me ajudar a lembrar? Os gêmeos eram bebês e provavelmente ganharam algum brinquedinho de borracha com assobio.
Só consigo me lembrar daquele moleque, chato, chorando aos berros, querendo meu palhaço. Era uma coisa tão insuportável aquela gritaria que mamãe determinou que trocássemos de brinquedo, ele ficando com o meu.
Eu queria entender porque um menino tinha que brincar com boneco, abraçado, andando pelo campo de futebol como se fosse o pai do palhaço....
Meus pais repetiram varias vezes que logo ele me devolveria o presente, que eu tivesse paciência. Ele nunca me devolveu totalmente. Deixava que eu pegasse às vezes, mas até dormia com o palhacinho com medo de que eu o roubasse.
Aquele pequeno ditador...
Isso tudo já rendeu muitas gargalhadas em nossa familia. Os homens brincavam com meu irmão, duvidando de sua masculinidade e sugerindo bonecas de presente, por anos a fio...
Ele por sua vez nunca deu muita importância às provocações, ignorando a todos e namorando todas as meninas que passavam por seu caminho.
O palhaço perdeu-se no tempo, ficou jogado em algum canto quando rasgou a roupa e descolou o chapéu de cone da cabeça pintada.  Eu o desejei muito apenas naquele dia de festa, para passear orgulhosa, abraçada a ele, exibindo, como fez meu irmão xereta e manhoso com sua capacidade imensa de gritar e exigir.
Obviamente não ficou qualquer mágoa, nem poderia pois tudo aconteçeu entre crianças, como deveria ser também entre adultos, tão sábios e experientes, mas com uma capacidade incrível para guardar rancores.
Foi um bom Natal, assim como foram muitos outros que comentarei depois.  Alguma lição a tirar disso?
Agora sim,  passados tantos anos e convivendo com uma quantidade razoável de filhos e netos e sobrinhos,  aprendi que o que vale no Natal é a magia, o clima de festa, o suspense pelo presente, abrir o pacote...o coração aos tropeções.
Notem que as recordações são muito mais nítidas com relação ao ambiente, e nem me lembro o que foi feito do palhaço...
Um brinde às lembranças, aos sonhos de criança, ao papai-noel na charrete tocando o sininho, ao cheiro de grama pisada enchendo o ar.  Tim...tim!


7 comentários:

  1. Nossa que chato esse Edison heim...
    Em toda família tem isso, o mais novo dominando sempre...Que ótimas lembraças você tem de sua família de pequena, Mãe, Pai, Irmãos, nossa isso é fantástico...As minhas melhores lembranças, são de quando acabava o Natal, no outro dia, quando minha mãe e meu Pai sentava com agente e perguntava dos presentes, consigo sentir o cheiro do meu Pai, e o perfume das mãos de minha mãe me abraçando. Acabava a bagunça a gritaria, a porta fechava, e era só nós. Na Gessy Lever também tinha as festas, e era exatamente da mesma forma que você descreve. SÓ NÃO TINHA UM IRMÃO PRA ROUBAR MEU BRINQUEDO KKKKKKK.Agora me vejo com as crianças nas festas da Caterpillar, e dou Graças por poder estar presente.

    Um beijo

    8 de dezembro de 2010 21:15

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  2. Agora sim mammy,adorei essa história(não é triste).E o tio Edison era terrível hein?
    beijocas

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  3. ...brinquedinho de borracha com assobio...rsrsrrs...vc é muito bacana, Ivani!! Me faz rir mesmo depois de um dia cansativo, quente e cheio de coisas na cabeça!!!rsrsrs...continue escrevendo sempre!! Beijos mil!!! Bela

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  4. Que delícia! Eu me transportei para essa festa da sua infância...até tomei guaraná...rsrsrs
    Fico imaginando a cara do tio Edison, abraçado ao palhaço e desfilando pela festa...ótimo!
    Quanto ao clima do natal, não tenho dúvida de que o que vale é o ambiente, a expectativa, os cheiros, o cuidado e carinho com que preparamos esta festividade...
    Até hoje sinto o cheiro dos natais da minha infância e lembro da expectativa com que esperávamos aquela noite...era tão mágico...
    Os presentes....realmente não marcam tanto...
    É...continuo acreditando que as crianças têm muito mais a nos ensinar do que nós a elas...
    Adorei o post...Escreva mais!!!!
    Beijos

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  5. Agora chorei de rir.....até hoje eu gosto de BONECAS e acho que vou continuar gostanto, principalmente aquelas que gostam de serem apertadas rsrsrsrs.Quanto ao meu presente, eu acho que eu ganhei um cinturão com revolver de espoleta ou foi um peão colorido, acho que foi o peão o revolver quando eu estava mais velho. Bem o importante de tudo isso foi a demonstração da minha moral que eu tinha com a mamãe.Beijos adorei

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  6. Acho mesmo que foi o pião colorido, porque se fosse o cinturão de revolver com espoleta vocês não me teriam hoje por aqui. Eu teria me matado!!!
    Aí seria demais....!
    Quanto à "moral" com a mamãe, você tem razão. Ela tinha um xodó especial por você. Pelo Marcos também, vamos fazer justiça, os dois mais chorões. Ninguém mereçe.

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  7. Que feio!!!! como fui boazinha!!!! nunca peguei nada de voces!!!! rsrsrsrsrsr Se fosse comigo ao inves de me matar eu matava o Edison....

    Adorei

    Beijos

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