Tenho um amigo, muito querido, irmão de meu genro, que fez a opção de morar só, em uma chácara, lá para os lados de Morungaba. Fica aqui perto, sempre nos vemos e falamos.
É uma pessoa que gosta de ajudar, trocar coisas e experiências, estar em contato com a natureza, trabalhar em sua roça particular, cuidar de seus cachorros. E tem amigos por toda a redondeza.
São na maioria pessoas pobres, muito humildes, lavradores de seus pequenos sitios, tirando dali o sustento minguado, uma gente sofrida.
Hoje ele me contou uma historia real, que me comoveu. Vou passar para voces.
Valdir, esse é seu nome, conheceu uma familia que tinha um dos filhos bastante doente. Já adulto, a cor da pele amarelada, sem forças para ajudar na lavoura, em tratamento médico.
Impressionado diante das necessidades daquelas pessoas, veio à cidade e pediu roupas e sapatos usados aos seus irmãos, para doar.
Separou também algumas roupas suas, em bom estado, e com enorme alegria levou para aquela gente tão simples.
Alguns dias depois, acabadas as festas de fim de ano, voltou para sua chácara, sua casa.
Soube então que infelizmente o homem havia falecido. O que fazer, como ajudar? Já haviam feito o sepultamento no dia anterior. Decidiu-se então, como é bem de seu feitio, comprar pãezinhos e biscoitos, com um pouco de frios, e dirigir-se à casa para uma visita de cortesia.
Encontrou uma familia destruida pela dor, os irmãos e os pais muito abalados, chorando muito, naquela casa tão pequena e triste.
Meu amigo disse-lhes que sentia muito por não estar presente ao velório, não ter tido a oportunidade de ajudar, fazer companhia.
Foi então que ouviu o que nunca esperou ouvir. A mãe de Claudio, muito abatida, disse:
- O senhor fez muito por nós. Meu filho parecia um doutor, de tão bem arrumado que estava com as roupas que o senhor deu. A gente não ia ter roupas para enterrar o nosso Claudio. Pode acreditar, ele parecia um doutor com aquela camisa bonita e a calça boa. A gente agradece demais.
Valdir chorou ao contar essa historia para mim. Na casa do Sr. Roque, bairro de Passa Três, distrito de Traviú, sentado na pequena casa ao lado de uma familia inconsolável, ele aprendeu que um gesto tão fácil pode trazer consolação e dignidade. Para aquela familia, foi muito digno o sepultamento de seu filho, com roupas e sapatos decentes.
Resolvi contar para voces porque penso que servirá como reflexão. Para mim restou a inquietante sensação de que as lições veem exatamente de onde menos esperamos.
Um beijo ao meu amigo Valdir, que sabe o significado da palavra doar. Sem medidas.