terça-feira, 1 de março de 2011

O lago


Ele foi esticando o corpo moído, devagar, os ossos doendo de cansaço. A rede era grande e confortável, fresca, debaixo da enorme paineira. Sentia-se tão consumido pela fadiga mas ao mesmo tempo tão orgulhoso e feliz por ter conseguido terminar o enorme buraco onde formaria seu lago.
Aquelas férias foram anciosamente esperadas e planejadas. O pequeno regato que margeava um dos lados do sitio deveria ser desviado para um espaço plano, preparado com cuidado, para transforma-se em um lindo lago, e depois, lá embaixo, continuar seu curso.
Tudo tinha corrido conforme seus planos. Os homens que o ajudaram eram decentes, bons com as ferramentas, e tudo foi demasiado rápido e tranquilo. Um trabalho pesado, claro, mas que ele fazia ombro a ombro com os peões, de sol a sol, sem reclamar.
Até que finalmente, naquele dia, soltaram a pequena comporta e a água limpa e doce do riacho começou a invadir o espaço que lhe fora destinado. Era o pequeno rio virando lago e depois voltando a ser rio novamente, cumprindo seu destino.
E o homem lá em cima, banho tomado, balançando suave em sua rede, percebeu que a noite chegou rápida e ele não conseguiria mais alcançar com o olhar os limites de seu sitio.
Continuou ali, sonhando - quem sabe coloco uns peixes bonitos, ou talvez monte um pequeno veleiro para o filho brincar - porque não?
Está feito - pensava - amanhã bem cedo desço para ver o nível da água. Agora é descansar.
Da casa vinha um burburinho de vozes de crianças, a mãe comandando os banhos, as roupas a serem usadas, as toalhas. Aos poucos o silêncio, as crianças já banhadas, exaustas das brincadeiras do dia, deixavam-se ficar na sala, jogadas pelo chão, aguardando o jantar.
Ah! o jantar...era bem vindo depois de um dia desses. A fumaça do fogão a lenha já estava a algum tempo misturando-se com os vagalumes pelo terreiro.
Logo, logo, estariam todos comendo, conversando, fazendo planos para o dia seguinte, que se fosse de sol daria muitas brincadeiras, agora também lá embaixo, esperando o lago encher de água.
Aproveitou mais um pouco aquele silêncio que ele amava demais, aquele pedaço de céu tão estrelado que parecia de mentira, e agradeceu por tudo - eu sei - porque era muito feliz naquele rincão querido.
Alguns minutos depois via-se apenas a rede balançando, lenta, em meio aos vagalumes. Hora de retirar-se...



imagens google

8 comentários:

  1. Oba! Hoje estou rapidinha...história fresquinha, dia trabalhado, tudo que eu queria...ler uma escrita tua...

    Ô Ivani que vontade que dá, senti até o cheirinho do fogão e o barulhinho da noite chegando! Ô coisa boa!

    E aí, vamos nos encontrar? E essa chuva passa ou não passa? Bjo, querida!!

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  2. Que lindo!!!! Ele foi um homem muito especial e muito apaixonado por voce...

    Beijos

    Eliana

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  3. Vou comentar com a frase de um livro "Viver não é estar de olhos abertos, mas ter a simplicidade de sentir tudo o que os olhos vêem e os ouvidos ouvem"Ah! Este homem do lago tem esta simplicidade...
    do livro Pingo um rio que passa pela vida.

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  4. Tem mais lagos e rios pelos blogs! Dá uma olhada neste aqui:
    http://marciliogodoi.blogspot.com/

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  5. Queridinha - Ele foi o cara!!!eu também ajudei um pouquinho na sua construção, fui pego de surpresa, o que eu gostava mesmo era pilotar aquele trator potente, arando o solo para depois formar aquela imensa plantação de milho, mandioca, abóbora até a gengibre, que conseguimos uma muda com o vizinho! lembra? foram momentos inesquecíveis, que também marcou muito na minha historia de vida...que saudades!
    Beijos

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  6. Ei, pego embalo no comentário da Cris " Vamos nos encontrar?" rsrsr...bem que podia!
    Texto lindo! Bem escrito e com vida!
    Querida, tudo bem por aqui. Chove. Fresco. Uma beleza! Aila estranha um pouco, às vezes. Acostumada ao nosso mundinho (eu e ela / ela e eu). Eu aproveito meus dias longe da Singer. Mas sinto falta da danada!
    Japa descansa de sua rotina doida no trabalho.
    Me proibiram de ficar pendurada ao netbook, mas dou minhas fugidinhas!!rs...
    Vc viu? A menina ganhou o sorteio mesmo com uma só chance! Sortuda!! Ainda não entrou em contato com a Susi.
    Agora vou!
    Beijos + beijos = Bela

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  7. Eu li este post liiindo no dia em que vc escreveu, mas estou comentando só hoje.
    Você se superou com esse conto...eu me transportei para aquelas noites maravilhosas no sítio, senti o cheiro da lenha no fogão, ouvi os grilos...vi de novo aquele céu estrelado que só se via lá...E vi o papai debaixo da paineira...Foram anos mágicos aqueles que nós passamos lá. Tenho que concordar com você!
    Beijinhos. Linda homenagem!

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  8. Ivani, no meu painel aparece uma postagem nova tua com o título mulher, mas ao abrir vem para cá. vou tentar mais tarde. Bjs

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