domingo, 23 de janeiro de 2011

Sob os eucaliptos...





Minhas lembranças não se confundem com minhas fantasias. Eu as tenho muito claras em minha mente e gosto muito de contá-las.
Quando eu e meu irmão um pouco mais novo, Edison, deixávamos nossa casa para levar o almôço para meu pai, ainda tínhamos uma hora para chegarmos até a fábrica.
Os dois meninos gemeos, menores, ficavam com uma vizinha, mulher abençoada, que tinha várias crianças e nos ajudava muito ficando com eles.
Eu havia preparado a comida - imagine só aos dez anos que comida eu fazia - e colocado em uma marmita grande, que era embulhada em um pano e depois colocada em uma sacolinha de alça.
A fábrica era longe e papai nos deixava uns trocados para irmos de ônibus. Mas nós sempre íamos, ou voltávamos, a pé, para economizar o dinheiro do transporte. E essa não era uma atitude minha, para guardar dinheiro, mas sim uma vontade de meu irmão que queria comprar bananas em uma barraca próxima à  emprêsa, para que meu pai pudesse come-las depois do almôço.
E eu sempre concordava com ele, para fazê-lo feliz, porque essa era uma de suas alegrias. Comprar bananas para meu pai.
Naquela época as fábricas não dispunham de refeitório e os funcionarios dependiam de familiares que lhes levassem a refeição. Havia uma imensa área de eucaliptos ao lado dos galpões de trabalho, e era lá que papai e outros funcionarios sentavam-se no chão, debaixo das árvores, para comer. Era um lugar agradável e nós crianças gostávamos de sentar e ficar vendo meu pai almoçar. Havia um barracão coberto, com mesas e bancos, mas a maioria dos homens optavam pelas sombras das árvores.
Meu irmão emociona-se quando se lembra que papai comia apenas a metade da marmita e depois dividia o restante em dois, para que pudéssemos comer também com ele. E nós comíamos, enquanto ele abria o pacote de jornal onde estavam as bananas, comia e guardava uma ou duas no bolso para mais tarde.
Isso era motivo de muito orgulho para meu irmão, afinal, em sua inocência de criança, ele estava ajudando meu pai a se alimentar. E hoje eu penso que mesmo que papai não gostasse de bananas ele com certeza as comeria, porque percebia o prazer do filho em fazer algo por ele.
Quando voltávamos para casa levando a marmita vazia, lembro-me perfeitamente daquele menino segurando minha mão e chorando por um bom pedaço do percurso, e eu silenciava. Sabia o motivo da tristeza, um dia ele havia me dito entre lágrimas : - "tata, eu tenho muita pena do papai..."
Meu irmão continua o mesmo chorão,  andando a pé e comprando bananas para agradar alguém. Ele sabe do que falo. Seu coração continua menino, brincando entre as árvores e folhas do bosque de eucaliptos.
Hoje meu brinde vai para ele e só poderia ser com cerveja bem gelada, trincando.
Obrigada garoto, valeu! Tim...tim!


10 comentários:

  1. Bom dia Ivani!
    Quanta lição!! Amei poder ler e aprender um pouco mais com essa família maravilhosa!!

    Beijos
    Ana

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  2. Oi meu amor, eu li primeiro a postagem anterior, essa não vou conseguir comentar, como você disse eu sou um chorão...beijos...

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  3. Hummm...adorei este post.
    Sempre gostei de ouvir essa história, principalmente ao lado do tio Edison... Vocês têm muitas coisas para contar... E essa passagem foi muito marcante, cheia de aprendizado.
    Me lembrei do que você me disse ontem: Nossa família é especial, muuuuuuuuuito especial!
    Você tem razão!
    Um brinde a vocês!
    Beijos, beijos e beijos.

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  4. Oi Ivani, quem me indicou seu blog foi a Bela do blog Chá de Baunilha.
    Que historia linda!
    Vou ver os outros posts.
    abraços

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  5. Oi Ivani, a cervejinha eu aceito! E não aceito reclamações de que não escreve direito e coisa e tal...senão como explicar a emoção que cada texto teu lido desperta?? A-do-ro!! Também adoro os papos ao vivo e a cores, prezo muito mesmo a família especial, vc sabe!! Bjo grande amiga!!

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  6. Ivani querida
    Que lindo!
    Fico muito emocionada com seu post.
    Adoro escutar estas estorias.
    Obrigada pelo carinho lá no blog.
    Grande beijo pra vc e para o seu irmão tbe.

    http://blogdaclauo.blogspot.com/

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  7. Quanto mais eu vivo, mais eu tenho a agradecer a Deus por ter nascido na nossa família!!!

    Amo voces!!!

    Um brinde a voce Edison querido!!!

    Beijos

    Eliana

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  8. Querida, que linda passagem. Vc sempre me deixa com nozinhos na garganta. Ai. Gosto tanto de vc, amiga.
    Sim, estive em Cuba. Fui a um encontro lá entre professores universitários de lá e daqui. Não apresentei nenhum trabalho, fui acompanhar...ah, outro dia lhe conto esta parte...então, Cuba é linda, linda! Muita história, rodei por tudo, conheci tudo. Falei com gente nas ruas. Subi no palanque de Fidel. Andei de coco taxi. Dancei com as cubanas. Nadei nas águas estonteantes de lá. Não fiz nada. Fiz tudo. Muito assunto pra qdo nos encontrarmos! Beijos, querida! Durma bem!!! Bela

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  9. Muito obrigada! Vindas de vc cada sílaba é muito valiosa!!
    Sim, sim, tenho mais fotos de Cuba. POdemos nos falar por email! Daí lhe conto mais sobre lá e lhe mando fotos! Que tal?
    Sabe Buena Vista Social Club? Vi e ouvi!!!:o)
    Beijos!!! Bela

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  10. Muito bom...O Edson realmente é especial...Nossa quanta novidade, esta cheio de post novos...Vou ler o outro...Amei essa estória, lindo mesmo...que experiencia de vida...Tão jovens e tão unidos no mesmo propósito fazer alguem feliz...e continuam na mesma energia!

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