
Minha mala não é assim, mas achei essa tão linda!
Quando decidi viajar minha filha me emprestou uma mala. Levíssima, de tamanho muito bom, da cor do vinho.
E lá fomos nós, as duas, uma empurrando a outra, não raro, uma puxando a outra. Normalmente eu puxava, mas nas escadas rolantes quem me puxava para baixo era ela! Quando o piso permitia, eu apenas empurrava e ela deslizava linda!
Coloquei nela muitos desejos, sonhos, medos, curiosidades.
Ela estava estacionada no quarto do hotel em Milão, nossa primeira parada, e pôde assistir meu primeiro vexame.
Quando meu irmão me chamou para passear eu falei, toda animada:
-Marcio, além da jarra térmica, tão bonita e dos vários chás sobre a bandeja, tem um forninho elétrico, pra gente aquecer algo, um lanche talvez...
Meu irmão, meio desconfiado disse:
-Forninho? mas no meu quarto não tem isso. Onde está?
E eu toda exibida mostrei ao lado da pequena geladeira o meu forninho elétrico. Meu irmão soltou uma gargalhada e disse:
-Isso é um cofre, um pequeno cofre!
Nossa, juro que achei que era um forno, por causa do botãozinho que girava...talvez um termostato?
E na viagem de trem, entre Milão e Veneza, a mala cor de vinho estavá lá, no maleiro, sobre minha cabeça, enquanto eu olhava intensamente pela janela, querendo ver tudo! E novamente o mano entra em ação:
- Ivani, veja se voce consegue ler o nome dessa cidade na placa, na estação.
E eu mais que depressa estiquei meu pescoço e disse:
- Uscita, estamos em Uscita!
Mais gargalhadas e explicações:
-Uscita quer dizer SAIDA. Vai ver muitas placas assim.
Como ia saber? Durante a viagem toda, eu e minha mala tivemos que aguentar as brincadeirinhas bobas, do tipo : "pergunta pra Ivani o nome dessa cidade!"
ou então "chegamos a uscita de novo!".
Em Florença ela estava no hotel, guardadinha, quando tive um diálogo meio louco com um vendedor de lanches e refrigerantes.
O italiano, atrás do balcão de lanches, gordo e com cara de maus amigos. Sobre o balcão algumas garrafas de cerveja, mas sem gelo, apenas como propaganda.
Eu me aproximo sozinha e digo:
- por favor, uma birra gelada.
E ele:
- como? gelato? gelato alí (mostrando a sorveteria em frente)
e eu:
-Não, não gelato, uma birra (apontando a cerveja) gelada!
-Ma como? gelato de birra? o que quer a senhora?
Meu irmão que assistia a tudo meio de longe fala alto: não gelada, diga "fresca"!
- uma birra fresca!
- senhora, eu sou italiano, fale comigo em italiano! (grosso, bem grosso!) e mostre qual birra!
- não quero mais! o senhor é muito grosso, arrivederci!
E ao virar ouvi quando ele disse:
-brasileira! fala comigo em italiano! birra gelata! kkkkkkkkkk
Esse vexame minha linda mala não viu...ainda bem! Mas também deixou de ver quando nas margens do Rio Arno eu parei em uma banca para comprar um lenço e o dono, um homem velho, magro, com um sorriso aberto disse:
- bonito em?
- sim, muito bonito, eu respondi.
- eu disse que EU sou bonito, o lenço é belo! ele respondeu
- sim, o senhor é bonito também! e sorri...
- brasileira? eu adoro o Brasil, gosto das músicas!
E começou a cantar o tico-tico no fubá, dançando e dando voltas!
Não tive dúvidas, dancei e cantei também, atraindo a atenção de outro vendedor que juntou-se a nós.
Rimos muito, foi divertido e inesquecível.
Em outra postagem conto mais sobre as pessoas com quem cruzei em Roma.
E minha mala sempre subindo e descendo escadas, elevadores, taxis e metrôs. Voltou repleta de saudades, lembranças, imagens magnificas, suspiros!
Hoje, atendendo a um pedido meu, o Marcello meu genro veio até aqui para pegar a mala cor de vinho e leva-la para sua garage, pois aqui no apartamento não tenho um lugar para ela.
Podem acreditar, ao chegar na sala empurrando minha amiga de viagem e comentando com ele o quanto andamos pela Itália comecei a chorar...
E ele rindo:
- Ivani, quando sentir muita saudade dela, vá até a garage fazer uma visita! Ou prefere que ela fique aqui?
e eu:
- não, pode levar, apenas fiquei emocionada porque me pareceu que agora estou de volta mesmo!
mas não tire os adesivos, assim ela também terá como se lembrar de mim...