Quando abriu as cortinas do quarto a sensação foi de dor nos olhos, uma luz tão intensa e clara, que a deixou cega por instantes.
Tão forte a luz que automaticamente soltou as cortinas e virou-se de costas para defender-se do incômodo.
Aos poucos foi abrindo os olhos, a dor diminuindo e as imagens do quarto surgindo lentamente.
Que sol é esse? Havia desembarcado no dia anterior, à noitinha, e se dirigido diretamente ao hotel.
Após o jantar, cansada demais para qualquer programa, adormecera quase que imediatamente.
Seu marido dormia ainda, entre os lençois, também cansado da longa viagem no dia anterior.
Mudar de país é complicado, deixar sua terra e suas coisas, as pessoas queridas, suas raizes e historias.
Tudo para acompanhar o marido, e atender as exigências da emprêsa onde ele trabalhava. Seriam apenas quatro anos.
Nem sabia ao certo onde iria morar, trouxe apenas roupas e pouquíssimos objetos pessoais, alguns porta-retrato, uns livros, poucos discos.
Nada conhecia sobre esse país tropical onde acabara de desembarcar, a não ser que eram hospitaleiros e alegres. Ficaria nessa cidade do litoral ao menos no primeiro mês, depois se instalaria na grande cidade do sudeste, onde se encontrava a matriz da emprêsa.
Pensou então: -vou abrir novamente as cortinas, mas desta vez com cuidado, devagar, e com os olhos fechados, para abri-los delicadamente, sem agressão.
Fez isso e teve à sua frente, como um presente, a imagem mais iluminada que jamais vira.
O calor mais macio e úmido que jamais sentira.
Viu o mar verde, com espuma branca, tão lindo e perfumado como jamais imaginara.
E fechou os olhos, e deixou-se banhar por aquele sol atrevido, inebriante, encantador.
Soube naquele momento, para nunca mais esquecer, a alegria e o prazer de se deixar abraçar por esse carinho gratuito e intenso.
Isso foi uma lembrança de minha querida Tricy, quando chegou por aqui da Alemanha, em 1966, onde ficou até 1970.
Isso que relatei ouvi de seus lábios, apaixonados pelo Brasil, e principalmente por seu sol e mar.
Ela foi muito feliz entre nós, e deixou saudades imensas.
Um brinde à Tricy e seus olhos sensíveis, azuis, que levou na pele a cor de nosso sol, e no olhar a luz que ela tanto amava. Oxalá esteja bem feliz em sua terra!
Tim-tim!